Relatório de emprego abaixo do esperado custou o cargo de Erika McEntarfer, gerando crise de credibilidade na economia dos EUA
Por Junior Flávio | Jornalista – Opz Play
O presidente Donald Trump demitiu, em 1º de agosto de 2025, a economista Erika McEntarfer, comissária do Bureau of Labor Statistics (BLS) — órgão que divulga mensalmente dados do mercado de trabalho dos EUA. A decisão ocorreu após a divulgação de um relatório que apontou a criação de apenas 73.000 empregos em julho, bem abaixo das expectativas do mercado, além de revisões negativas de 258.000 vagas nos meses de maio e junho (Business Insider).
Trump acusou McEntarfer, nomeada no governo Biden com votação bipartidária no Senado (86 a 8 votos), de manipular os dados para prejudicar os republicanos e favorecer adversários políticos — especialmente a vice-presidente Kamala Harris. Contudo, não apresentou nenhuma prova para embasar tais alegações (AP News).
Contexto dos dados e críticas à decisão
Relatório de emprego e revisões alarmantes
O relatório mostrou que somente 33.000 vagas foram criadas entre maio e junho, após uma revisão expressiva que cortou 258.000 empregos dos números anteriores. A taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,2% em julho, gerando alerta entre investidores e economistas (Financial Times).
Essas revisões não são incomuns, porém Donald Trump insistiu em falar publicamente que os números foram “rigged” — manipulados — sem apresentar qualquer evidência (Reuters).
Reações técnicas e acusações de autoritarismo
Diversos ex-comissários do BLS e especialistas alertaram que a decisão foi sem fundamento técnico e politicamente motivada. William Beach, que liderou o BLS sob Trump, afirmou que “não há como um comissário manipular os dados, pois eles são compilados por muitos funcionários e travados antes que ele os veja” (MarketWatch).
Já o ex-secretário do Tesouro Larry Summers comparou a demissão a ações autoritárias, afirmando que se trata de “algo que vai além de tudo que Nixon fez” e representa um sério risco à democracia (NSC Total).
Consequências econômicas e políticas
Risco à confiança nos dados e impacto nos mercados
Investidores já demonstraram preocupação clara: segundo a agência Reuters, a perda de confiança nos dados pode dificultar a atuação do Federal Reserve na definição de juros e compromissar decisões futuras de investimento nacional e internacional (Reuters, Financial Times).
A perda de imparcialidade institucional
Organizações como o grupo Friends of BLS e a American Economic Association exigem que o Congresso investigue a demissão, defendendo que a credibilidade de uma agência como o BLS é essencial para políticas públicas e para a economia americana como um todo (The Guardian).
Por que isso importa para o mundo?
Toda a economia global usa os dados do BLS como referência para medir inflação, emprego e produtividade. Ao demitir sua líder após um relatório desfavorável sem justificativa técnica, Trump coloca em xeque a confiança no sistema estatístico dos EUA, lançando uma sombra sobre decisões de bancos centrais, investidores e governos ao redor do mundo.