Plano Safra patina, fertilizantes disparam e produtor entra na corda bamba
O governo anunciou o Plano Safra 2025/26 como o maior da história, mas na prática o crédito encolheu e muitos programas ficaram no papel. Ao mesmo tempo, os fertilizantes subiram forte (ureia +33%, MAP +19%, KCl +20%) e atrasaram as compras. Para o produtor, o recado é claro: Brasília promete, mas não entrega. Cabe ao campo se planejar para não perder margem (Canal Rural, Revista Cultivar).
O que dizem os números do Plano Safra
- O governo prometeu R$ 516,2 bilhões, mas descontada a inflação, o valor não cresceu de verdade (BrasilAgro).
- Em julho, o crédito rural caiu 22% em relação a 2024: de R$ 47 bi para R$ 37 bi (Visão Agro).
- O número de contratos despencou: de 186 mil para 109 mil no mesmo mês, queda de 41% (Visão Agro).
👉 No anúncio tem recorde, mas no campo o dinheiro não chega.
Programas que ficaram só no discurso
- Moderfrota (máquinas): juros subiram para 13,5% ao ano, inviabilizando acesso (UOL Economia).
- PCA (armazéns): dos R$ 4,5 bi prometidos, só metade foi usada (UOL Economia).
- Proirriga e PCA tiveram execução fraca (Canal Rural).
- Investimentos gerais caíram 5,4%, mesmo com volume maior (CNN Brasil).
Agricultura familiar e médios produtores ficaram no sufoco
- O Pronamp (médios) subiu no papel, mas sem acesso real (SBA1).
- O Pronaf perdeu quase metade do apoio efetivo (SBA1).
- No Centro-Oeste, crédito caiu 46%; no Nordeste, 53% — regiões que mais dependem de apoio público.
Fertilizantes: preços nas alturas travam a safrinha
- Entre janeiro e agosto, a ureia subiu 33%, o MAP 19% e o cloreto de potássio 20% nos portos brasileiros (Revista Cultivar, Agrolink).
- A relação de troca entre soja e MAP chegou nos piores níveis em anos, segundo a StoneX (Revista Cultivar).
- No Mato Grosso, as importações recuaram 18,5% em 2025, o pior nível em seis anos (Agrolink).
👉 Quem depende de adubo caro precisa entregar mais sacas para pagar a conta.
Há sinais de alívio
- Em julho, o Brasil importou 617 mil toneladas, puxado por nitrogenados (+361,9%) e fosfatados (+75%) (Revista Cultivar).
- Preços internacionais do MAP e KCl tiveram queda moderada (StoneX).
- A relação de troca soja/MAP melhorou 4,3% em agosto (Spazio Agro).
O que isso significa para o produtor
- Crédito existe, mas está difícil de acessar.
- Juros altos afastam financiamento; programas viram fachada política.
- Sem apoio público, cresce a busca por CPR e crédito privado (Compre Rural, Forzza do Agro).
- Em MT, custo da soja subiu para R$ 4.183/ha, puxado por fertilizantes e defensivos (Canal Rural Mato Grosso).
Caminhos práticos agora
- Procure crédito real: BNDES e cooperativas são alternativas mais concretas que o Plano Safra.
- Use CPR com cautela: funciona bem se planejada e com fluxo de caixa garantido.
- Antecipe compras de fertilizantes se os preços seguirem recuando. Não espere nova alta.
- Considere alternativas: sulfato de amônio, TSP ou SSP podem aliviar custos.
- Controle o caixa: só assuma insumo com pagamento garantido.
- Ajuste logística: busque portos e rotas com menor fila para evitar gargalos.
Em resumo
O Plano Safra 2025/26 começou forte no marketing, mas fraco na prática: crédito encolheu, juros subiram e programas emperraram. Ao mesmo tempo, a safrinha 2026 já nasce pressionada por fertilizantes caros e compras atrasadas.
O produtor não pode esperar de Brasília: a saída é planejamento, crédito alternativo e compras inteligentes. Quem age com prudência protege o caixa e garante a próxima colheita.
Jornalista Safra Play, Américo Ferreira