Soja: colheitadeira ligada nos EUA, Chicago atento — e sua margem também
Setembro chegou e a colheita de soja nos Estados Unidos começa a ganhar ritmo. Em ano de margem apertada, qualquer revisão de produtividade por lá mexe em Chicago (CBOT), balança os prêmios nos portos brasileiros e decide o resultado do produtor na fazenda. O USDA trouxe números fortes de produção e estoques. O risco do momento: a China voltar a comprar soja americana e derrubar os prêmios pagos no Brasil. (USDA)
O que diz o USDA para a safra americana (2025/26)
- Produção: 4,29–4,30 bilhões de bushels (≈117–118 milhões t).
- Área: 80,1 milhões de acres, a menor desde 2019.
- Rendimento: recorde de 53,6 bu/ac.
- Estoques finais: 290 milhões de bushels, oferta confortável.
- Demanda interna: esmagamento firme por causa do óleo para biocombustível (2,54 bi bu).
Leitura simples: se a colheita correr bem, Chicago sente pressão de baixa. Mas se o clima atrapalhar, pode dar um respiro nos preços.
Chicago, China e prêmios no Brasil: onde mora o risco
- Céleres alerta: se a China comprar soja dos EUA, os prêmios pagos no Brasil recuam.
- Prêmios brasileiros: estavam firmes em Paranaguá e Santos, mas cederam no fim de agosto por causa da disputa de embarques. (Fastmarkets)
- Contexto global: EUA e China ajustam compras toda semana. O apetite chinês define se o prêmio sobe ou cai. (Reuters)
Moral da história: Chicago olha rendimento nos EUA; o prêmio brasileiro olha para a China.
Diagnóstico rápido do Brasil
- Prêmios: ainda acima de 2024, mas voláteis.
- Comercialização 25/26: atrasada em muitas regiões, deixando produtor mais exposto ao tripé Chicago + prêmio + câmbio.
O que o produtor deve fazer agora
- Venda em partes: não coloque tudo no mercado de uma vez. Vá fatiando (30/30/40, por exemplo).
- Olho no porto: acompanhe prêmios em Paranaguá e Santos toda semana. Se a China comprar dos EUA, feche negócio antes que caia.
- Planeje logística: combine bem a janela de embarque para não perder no frete.
- Proteja-se no câmbio: dólar faz metade do preço. Um contrato de dólar bem feito salva margem.
- Qualidade conta: cuide da umidade e impurezas. Prêmio bom some se perder em desconto.
- Compre insumos com calma: antecipe parte quando houver recuo. Não deixe para cima da hora.
- Informação é dinheiro: siga relatórios do USDA, WASDE e crop progress.
Cenários de 30–60 dias
- Se colheita andar bem nos EUA: pressão em Chicago.
- Se houver atraso climático: preços podem segurar.
- Se a China comprar mais dos EUA: prêmios no Brasil recuam.
- Se preferir Brasil: basis reage.
Estratégia: venda escalonada + olho no prêmio + dólar protegido.
Em resumo
O produtor de soja entra em setembro com um jogo claro: colheita nos EUA e compras da China vão ditar preço e prêmio. A saída é vender aos poucos, cuidar da logística e proteger o câmbio. Assim, independente do humor de Chicago, a margem na fazenda fica garantida.
Jornalista Safra Play, Américo Ferreira