Rio Verde em risco: poluição e garimpo ilegal ameaçam abastecimento de cidades no Sul de Minas

Rio Verde sob ameaça: poluição e garimpo clandestino preocupam no Sul de Minas

O Rio Verde, um dos principais rios do Sul de Minas Gerais, vive uma crise ambiental que coloca em risco não apenas sua biodiversidade, mas também o abastecimento de água de milhares de famílias. Com 220 quilômetros de extensão, ele nasce na Serra da Mantiqueira, entre os municípios de Itanhandu e Passa Quatro, atravessa 31 cidades e deságua no Lago de Furnas, sendo considerado um patrimônio natural da região. Apesar dessa relevância, o manancial sofre hoje com dois graves problemas: a poluição urbana e a exploração ilegal de minérios.

Poluição urbana: lixo e esgoto no leito do rio

De acordo com levantamentos recentes realizados por expedições ambientais, lideradas pelo pesquisador Ronipeterson Landin, a poluição visível ao longo do Rio Verde é alarmante. Nas margens e no próprio leito já foram encontrados eletrodomésticos descartados, entulho de construção, embalagens plásticas e até restos de pneus. Outro problema recorrente é o lançamento de esgoto in natura por cidades que ainda não possuem sistema adequado de tratamento, agravando a contaminação da água e afetando diretamente a saúde das comunidades ribeirinhas.

Garimpo ilegal e o uso de mercúrio

Além da poluição urbana, o Rio Verde também é alvo de garimpo clandestino de areia e metais preciosos, como o ouro. A atividade ocorre por meio do uso de dragas que revolvem o leito do rio, destroem áreas de preservação permanente e devolvem sedimentos contaminados para a água. O uso do mercúrio nesse processo é uma das maiores preocupações dos especialistas, já que a substância é altamente tóxica.

Segundo o professor Alexandre Augusto Barbosa, doutor em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), o mercúrio não é eliminado nos processos convencionais de tratamento da água. “Esse metal pesado se acumula no organismo humano e pode provocar doenças graves, incluindo câncer e distúrbios neurológicos”, alerta o especialista. Estudos internacionais apontam que populações expostas ao mercúrio por meio da água e do consumo de peixes contaminados apresentam riscos elevados de doenças crônicas.

Operações de fiscalização e impactos sociais

Nos últimos meses, operações conjuntas da Polícia Federal, do Ibama, da Agência Nacional de Mineração (ANM) e da Polícia Militar Ambiental fiscalizaram 15 pontos críticos ao longo do Rio Verde. As ações resultaram na apreensão de dragas, mercúrio e pequenas quantidades de ouro, além da prisão de 13 trabalhadores envolvidos em atividades ilegais. Foram aplicadas multas que ultrapassam R$ 2,5 milhões, mas especialistas afirmam que a repressão precisa ser contínua para evitar a retomada imediata das atividades criminosas.

O impacto do garimpo clandestino não se limita ao meio ambiente. Muitas famílias ribeirinhas, que dependem diretamente do rio para consumo e subsistência, já relatam dificuldades no acesso à água potável e no uso da água para agricultura e pecuária. A degradação ameaça também o turismo ecológico da região, que tem no Rio Verde um de seus cartões-postais.

Urgência de políticas públicas e conscientização

Ambientalistas e organizações civis destacam que, sem ações estruturadas de recuperação e políticas públicas consistentes, o futuro do Rio Verde pode estar comprometido. Ações de educação ambiental, ampliação do saneamento básico, fiscalização contínua e incentivo a práticas sustentáveis são apontadas como medidas essenciais.

O Rio Verde é mais do que um curso d’água: ele representa uma herança natural, cultural e econômica para o Sul de Minas. Sua preservação é fundamental para garantir a qualidade de vida das populações locais e a sustentabilidade da região.

Jornalista: Junior Flávio – OPZ Play

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