Agro sob pressão: tarifas, crise lá fora e Brasília em modo confuso
Setembro abriu com o Agro no meio do vendaval: tarifas de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros, tensão militar no Caribe envolvendo a Venezuela, juros longos em alta e o julgamento de Jair Bolsonaro no STF. Tudo isso mexe no dólar, nos prêmios nos portos e no acesso a crédito. Enquanto o produtor precisa de solução prática, o governo segue enrolado na reação ao tarifaço. (Reuters)
Tarifaço dos EUA: custo direto na veia do exportador
Uma corte de apelações dos EUA considerou a maioria das tarifas ilegais, mas manteve a cobrança até 14 de outubro enquanto a Casa Branca tenta levar o caso à Suprema Corte. Resultado: incerteza alta e contratos mais caros (frete/seguro) no curto prazo. (Reuters)
Enquanto isso, Lula disse que “não tem pressa” para retaliar, o que mantém o exportador brasileiro exposto e sem previsibilidade. (Reuters, TradingView)
Para aliviar a pancada em setores específicos (alimentos e bebidas), o governo brasileiro anunciou compras públicas de produtos mais atingidos (açaí, água de coco, manga, castanhas), pagando preço “adequado”, com foco em escolas e estoques. Medida ajuda, mas não resolve o problema dos prêmios e do line-up nos portos. (AP News, ABC News)
Julgamento de Bolsonaro: política que balança o câmbio
O julgamento de Bolsonaro, com expectativa de desfecho até 12 de setembro, ampliou o holofote internacional. A tensão política aumenta a volatilidade do dólar, que vira e mexe decide o seu preço de balcão. (Reuters)
Além disso, Washington marcou audiência pública (Seção 301) para ouvir queixas contra práticas do Brasil em áreas como comércio digital, pagamentos, etanol, PI e meio ambiente — tema que pode trazer novas medidas. (United States Trade Representative, insidetrade.com)
Crise EUA × Venezuela: risco geopolítico e frete mais caro
Os EUA ampliaram presença naval no Caribe e confirmaram ataque a embarcação ligada ao crime transnacional que partiu da Venezuela. Maduro respondeu com discurso duro, dizendo que proclamará uma “república em armas” se houver ataque ao país. Esse quadro eleva prêmio de risco no transporte marítimo e pode respingar em frete e seguro dos nossos embarques. (Reuters, AP News, cbsnews.com)
Mercados: ouro em recorde, Brent perto de US$ 68 e dólar nervoso
O ouro renovou recorde acima de US$ 3.500/oz com aposta de corte de juros pelo Fed e busca por proteção. Para o Agro, é recado de incerteza elevada (e dólar mais sensível). (Reuters)
O Brent gira perto de US$ 68 (queda na manhã de hoje), o que ajuda a dar um respiro em diesel/frete no Brasil. (Reuters)
O Bitcoin tem se mantido acima de US$ 111 mil em leituras recentes — sinal de apetite seletivo por risco, mas com muita oscilação. (CoinDesk)
O que fazer agora: passo a passo simples (funciona no campo)
- Venda em partes: não coloque tudo de uma vez. Fatie (ex.: 30/30/40) e capture momentos bons.
- Olho no porto: monitore Paranaguá/Santos/Arco Norte. Em janela de navio incompleto, o prêmio costuma melhorar — feche negócio se pagar seus custos.
- Proteja o câmbio: dólar é metade do preço. Um contrato simples de dólar ajuda a segurar a margem quando sair manchete.
- Diversifique destinos: empurre lotes para China, México, Oriente Médio se os EUA ficarem “caros” com tarifa.
- Contrato e seguro: inclua revisão por frete/atraso e atualize cobertura (guerra/greve). Geopolítica mexe no prêmio rápido.
- Crédito com cautela: juros altos pedem disciplina. Use cooperativa/CPR quando fizer sentido e com planilha na mão.
Em resumo
O produtor está enfrentando um combo de respeito: tarifaço nos EUA, tensão no Caribe, julgamento com efeito no câmbio e ouro em recorde sinalizando medo global. Falta reação rápida e firme do governo brasileiro — e sobra trabalho para quem está no campo. A saída é a mesma de sempre: planejamento, venda escalonada, olho no prêmio e proteção no câmbio.
Jornalista Safra Play, Américo Ferreira